quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Marx e a educação

“Esperar da sociedade mercantilizada a promulgação ativa – ou mesmo a mera tolerância – de um mandato às suas instituições de educação formal que as convidasse a abraçar plenamente a grande tarefa histórica do nosso tempo: ou seja, a tarefa de romper com a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana, seria um milagre monumental. É por isso que, também no domínio educacional, os remédios 'não podem ser formais; eles devem ser essenciais ". Por outras palavras, eles devem abarcar a totalidade das práticas educacionais da sociedade estabelecida.”Mészáros
Bastante atrasada,sem internet,mas vamos lá...
Li todas as postagens das colegas,mas após ter feito uma breve síntese do que mais me marcou ao ler sobre Marx não foi surpresa encontrar pontos em comum,que nos causam inquietações e aflição,já que somos muito críticos.Não pude assim,deixar de me ver dentro do contexto ideológico fundamental da corrente marxista,bem como alguns colegas.Quando estou aqui,na sala de aula,com meus trinta alunos e tentando reler com atenção as partes que grifei sobre o material proposto para poder elaborar minha atividade,é que me sinto oprimida por esse sistema capitalista.Não tenho alternativa,preciso trabalhar essas sessenta horas e quero fazer esse curso.Não seria mais digno e humano trabalhar somente vinte horas sobrando-me assim tempo para dedicar-me a outras tarefas que me permitissem o desenvolvimento de outras áreas?Quando digo que “preciso” vejo nessa afirmação o que Marx dizia sobre a mais-valia ,afinal mesmo não sendo uma operária de fábrica,sou uma assalariada e estou produzindo mais para meu “patrão” do que o meu próprio custo para a sociedade,já que a educação que é oferecida gratuitamente sai também do meu salário,em forma de impostos,isso sem falar dos diversos “bolsa” que o Governo federal oferece.Acho que o que recebo por 60 horas deveria ser pago por 20 horas assim cobrindo minhas despesas de sobrevivência e deixando-me tempo livre para dispor como quisesse.
Ainda me vejo lutando contra a alienação promovida pelo capitalismo,sendo que meu trabalho tornou-se uma mercadoria,que exige cada vez mais tempo dedicado a ele,mas com menos qualidade e produtividade.
Nas palavras de Mészáros “ até as mais nobres utopias educacionais, formuladas no passado a partir do ponto de vista do capital, tiveram que permanecer estritamente dentro dos limites da perpetuação do domínio do capital como um modo de reprodução social metabólica”.
Então “quem educa os educadores” ?se esses não podem dispor de tempo livre nem para isso? Com um salário que não supre as necessidades básicas somos forçados à sobrecarga de trabalho,em condições desumanas,sem apoio de recursos materiais nem muitas vezes dos setores pedagógicos,cada vez mais extintos nas escolas.Como eu posso educar para promover a transformação social,base utópica que conduz muitos educadores a continuarem perseverando em seus propósitos,se eu não consigo nem como classe trabalhadora,mudar a minha própria condição de trabalho? Para melhorar um pouco (e bem pouco) meu salário precisaria atualizar-me,aprimorar meus conhecimentos,ESTUDAR! Mas que tempo resta para que eu possa buscar esSa qualificação?As madrugadas de estafa e cansaço onde não se aplica a mesma qualidade,vontade e disposição?
Mais uma vez cito Mészáros: “é isto o que acontece mesmo quando um reformador social e educacional iluminado, que honestamente tenta remediar os efeitos alienantes e desumanizantes do "poder do dinheiro" e da "procura do lucro" que ele deplora, não pode escapar ao colete-de-força auto-imposto das determinações causais do capital”.
Desculpem o desabafo,culpado disso é Karl Marx!!!
Mas li bastante a respeito do trabalho infantil e suas implicações na tangência do desenvolvimento humano,concordo,realmente há uma regulamentação relativa à idade e a jornada de trabalho que denotam a uma evolução na busca da humanização apregoada por Marx.Hoje já não lidamos só com os filhos dos proletários para quem Marx buscava uma sociedade mais igualitária,porque esses filhos tinham pais trabalhadores e ajudavam no sustento de suas famílias.Hoje temos a herança do avanço de tecnologia,do crescimento populacional desenfreado e conseqüente desemprego.Ainda Mészáros :“o papel da educação é supremo tanto para a elaboração de estratégias apropriadas, adequadas a mudar as condições objetivas de reprodução, como para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica radicalmente diferente. É isto que se quer dizer com a visão de uma "sociedade de produtores livremente associados". Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a "transcendência positiva da auto-alienação do trabalho" seja caracterizada como uma tarefa inequivocamente educacional.”

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