terça-feira, 16 de junho de 2009

Desenvolvimento moral segundo Piaget

Atitudes violentas são parte do cotidiano de minha escola.Os alunos não as vêm sobre o mesmo prisma que nós professores.Algumas são mais leves outras bem graves.Não sei bem se as classifico assim por já estar me acostumando a elas,ou se por realmente podê-las chamar assim.
Na sala de aula não acontecem com freqüência,pois tento conversar sempre sobre isso e também a presença do professor,pelo menos nas séries iniciais coíbe essas atitudes.Mas não quer dizer que não ocorram.Por exemplo,semana passada,um aluno colocou apelido no outro na sala de aula,o que pra mim já é um tipo de violência,porque foi bem pejorativo.O outro revidou com palavrões e o resultado foi uma briga em sala de aula.Mas o mais comum mesmo é as brigas que ocorrem nas filas,onde um empurra o outro,que esbarra no da frente.Esse por sua vez não sabendo quem deu o empurrão agride o colega mais próximo,que esbarrou nele e foi tão vítima quanto.Daí para socos e pontapés é rápido.O pior mesmo é no recreio,onde acontece as “voadeiras” e as agressões em grupo.Mas segundo os alunos,é só “arreganho”.Percebo nas conversas que tenho com eles,que eles não enxergam a dimensão do que estão fazendo.è como se fosse algo normal,parte natural da sua convivência.Não percebem que podem machucar seriamente um colega e que atitudes assim impedem uma convivência harmoniosa .

Concordo com as duas teses que foram apresentadas como explicação dada por outros professores para esse tipo de comportamento.Realmente o meio violento pode sim afetar o modo de ver os outros.Num contexto em que vale o agora e o ter,em que se vive sobre a dominação de um poder paralelo que induz a conquistar as coisas pela força,cria-se uma cultura de não valorização a vida e aos sentimentos.Alguns alunos também refletem as famílias agressivas que tem,mas não por questões genéticas.Acredito que repitam aquilo que tem como normal,se os pais que dizem amá-los os agridem de forma que não gosto nem de lembrar,porque eles não tratariam assim os colegas que tem por amigos.Essa seria a forma de manifestar seus sentimentos e de reagir quando contrariados,que aprenderam por exemplo dos pais e que passam a reproduzir na escola.

“A escola deve ensinar, principalmente, um comportamento racional e autônomo, a discutir e a avaliar as diferentes soluções, contribuindo dessa forma para uma melhor socialização. Deve fugir principalmente da doutrinação.”

Claro que cabe a nós educadores tentar reverter essa situação,construindo junto aos alunos noções mais humanizadas de justiça e igualdade.É difícil no dia-a-dia manter a mesma palavra e cumprir com as combinações.Muitos desistem e acabam deixando as coisas acontecerem o que resulta na continuidade da violência escolar.

“Mesmo sabendo que a educação moral deve favorecer a colaboração, a argumentação, a reciprocidade e o respeito mútuo, torna-se difícil trabalhar com esses elementos dentro de uma relação quando se tem uma criança habituada à obediência heterônoma. Trata-se de um exercício duradouro e que não pode ser implantado de uma hora para outra."

Mas daí penso que a disciplina é um fator muito importante sem a qual não há ordem.Não quero dizer que seja preciso construir verdadeiros robôs como se os alunos fossem protótipos a serem trabalhados.Mas leva-los a refletir sobre suas atitudes,nas outras formas de resolver seus conflitos (internos e externos) e nas conseqüências que podem surgir positivas e negativas.

“Para Fávero (2005, p. 24-25) A criança precisa viver situações em que sua autonomia
seja fatalmente exigida. Um bom exercício é a organização de regras coletivas, que exigirão
entendimento, acordos e aprovação recíproca.A cooperação passa a ser um exercício de
autonomia e são elementos desse exercício o pensar, o expressar, o dialogar, o refletir, entre
outros que respeitem a participação ativa do sujeito ao ser integrado em um sistema de regras.”

Vejo a violência escolar tão exacerbada, como fruto de uma sociedade conturbada,materialista e onde as famílias estão desestruturadas e perdidas no que diz respeito aos valores que devem passar para seus filhos.Se os ensinam a ser “humanos”,solidários e fraternos correm o risco de desprepará-los para o mundo,que está extremamente competitivo e onde o egoísmo é a palavra chave para o sucesso.

“A heteronomia é a etapa do desenvolvimento moral em que são introduzidas normas
sociais à criança. Essas normas são apresentadas pelo adulto e atuam como parâmetros para a criança agir moralmente. Com o decorrer das relações, se incentivada a reflexão, a criança
passará a considerar as regras que conhece e revalidá-las. Entenderá que as regras são arbitrárias e passíveis de negociação.”

Em nossa escola estamos pensando em elaborar um projeto pedagógico para o próximo ano que tenha como objetivo principal justamente trabalhar a questão da violência.Ainda não começamos a faze-lo também por entendermos que despendi tempo,disposição,estudos e concentração para que tenha estratégias positivas e que proporcionem a sua realização.Há sim uma estigmatização,não só por parte dos professores mas dos próprios colegas em relação aos alunos que agem com violência.A maioria não gosta do que vê,passa ou sofre com esses comportamentos e reage com rejeição.Esse já é um grande ponto de partida para iniciar nosso projeto,pois possibilita conversações,debates e reflexões coletivas sobre o assunto e todas suas possibilidades a partir daí.
A família está cada vez mais distante dos filhos,deixando para a escola o papel também,de construir valores e trabalhar com ética e moral.

“Isso é “coisa que deve vir de casa”, da educação familiar? Sem dúvida. Mas também a escola assume esse compromisso. Um ambiente que reúne grupos, que possui relações de respeito e que tem como fundamento à educação tem a necessidade de saber o quanto contribui para o desenvolvimento moral dos seus alunos – pois esse desenvolvimento também é parte da aprendizagem.”

Não adianta reclamarmos,essa é a realidade.Temos que partir dessa e com essa realidade para melhorarmos nossa convivência e se não aceitarmos essa missão corremos o risco de envelhecer a mercê de adultos sem nenhum princípio, nem compaixão nem valores essenciais para uma sociedade justa,igualitária e fraterna.

“O respeito, diferente da obediência, é um sentimento construído nas relações interpessoais e vivenciado inter e intra pessoalmente. A harmonia nas relações favorece o respeito mútuo (ARAÚJO, 1999).”

Temos casos que ainda fogem a todas essas questões que são caracterizados como desvios de conduta ou de comportamento.crianças que sem causa aparente apresentam grande dificuldade em seguir regras,normas de convivência ou de conter seus ímpetos agressivos.Acho que esses sim,são casos preocupantes pois não é tomada nenhuma providência no auxílio desses alunos,não há atendimento especializado disponível ou acessível e os alunos crescem e fortalecem esse lado de suas personalidades,além de os outros colegas que não tem o entendimento de que se trata de algo que precisa de tratamento,acabem por ver suas atitudes como algo sem conseqüências,criando-se uma visão de impunidade e no processo de formação de conhecimentos em que se encontram,acabar sendo absorvido como natural ou normal.

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