terça-feira, 23 de junho de 2009

Mudança de concepções...

As causas para as deficiências mentais são difíceis de identificar,variadas,diversas e suas classificações são muito generalizadas.Pelo que entendi cada tipo de deficiência mental pode ter ainda diferentes níveis ou divergir em algumas características.Pode ter origem nas medidas sanitárias durante a gestação e o parto,pela idade avançada da mãe,alimentação ou ainda surgir da interação de vários fatores biológicos ou psicossociais.
Me chamou a atenção importância de intervir cedo,quanto antes melhor para a melhoria das limitações que os deficientes mentais possam ter no desenvolvimento de suas capacidades relacionadas as suas necessidades básicas enquanto seres humanos que são.Aqui entenda-se por capacidades básicas o cuidado consigo mesmo,desde a mais simples higiene ao controlar suas necessidades fisiológicas,a autonomia e independência em executar tarefas em casa e manusear aparelhos como geladeira,tevê,chuveiro e estendendo-se ao deslocamento fora de casa,ao fazer trajetos ou pegar ônibus.para isso só a família não dá conta,entra aqui a importância da escola como reforço na aquisição dessas capacidades.Podem aprender por imitação,por observação ou por reforço,e na escola ainda podem desenvolver o lado cognitivo e quanto mais praticarem mais amadurecem mesmo dentro de suas limitações.
A grande questão que afeta aos professores que convivo é justamente as exigências que uma educação especial fazem de nós,na mudança ou no aprimoramento de nossas relações com nossos alunos.”Não importa o que o aluno é ou faz,mas o que a escola faz com ele.”è um desafio,desde a dificuldade de ensina-los,o tempo e a paciência que essa tarefa nos exige,passando pela nossa participação no processo de socialização que precisamos trabalhar com todos,e ainda dar conta de cuidar da aquisição de destrezas que os alunos com os quais estamos acostumados já apresentam.Poderia-se realmente pensar num currículo especial (voltar aos tempos passados),mas a variedade nas deficiências é tão grande que se torna impossível,seriam inúmeros de acordo com cada individualidade.realmente as adaptações curriculares para cada caso,dentro do currículo escolar de todos,são mais indicadas.
Outro aspecto que achei de suma importância é a interação e cooperação entre os pais e professores,na troca de informações,na continuidade das combinações em casa e no acompanhamento das evoluções dos alunos.Essa avaliação não pode ser feita só uma vez,como diagnóstico de um problema e fim.Ela precisa ser feita de forma sistemática e de tempos em tempos,ou quando ocorrerem modificações na vida escolar dos alunos com deficiências mentais.Falo da cooperação entre pais e professores,porque só em casa,o trabalho será muito mais lento,árduo e possivelmente não contará com o desenvolvimento na parte cognitiva e social,mas também só a escola,não dará conta desse empreendimento.É preciso que os pais aceitem as necessidades especiais de seus filhos,busquem orientações e trabalhem junto com a escola para a melhoria das condições de vida dos deficientes.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

ImportÂncia da educação na civilidade

Kant e ADorno concordam na questão da educação para autonomia,para que os homens sejam capazes de tomar decisões,fazer suas próprias escolhas cientes de suas conseqüências para si e para os outros.Também que através da educação podemos trabalhar questões de ética e de princípios necessárias ao desenvolvimento de seres humanos sociáveis,justos e que respeitem as diversidades existentes em nosso planeta.E ainda que essas questões precisam ser trabalhadas desde cedo,por isso a importância da primeira infância dentro da escola.Num primeiro momento os educando seguem as regras por ainda não poderem julgar por si mesmos,mas depois são educados a fazer melhor uso possível de sua liberdade para que no futuro possam ter autonomia suficiente para manter sua independência e conviver na sociedade,respeitando os direitos dos outros.
Concordam na necessidade de disciplina ,porque o homem tem necessidade de formação. A formação compreende a disciplina e a instrução.Que a educação vem de geração para geração e seus objetivos servem as necessidades da sociedade que dela faz uso ,portanto é necessário sempre revermos os propósitos da educação que estamos desenvolvendo.
“É entusiasmaste pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela educação, e que é possível chegar a dar àquela forma, a qual em
verdade convém à humanidade. Isso abre a perspectiva para uma futura felicidade da espécie humana.”Kant

educação e autonomia

Na primeira infância,período em que as crianças estão na escola podemos trabalhar com as questões relativas a convivência ,autonomia,liberdade e civilidade.A educação permite e mais que isso,precisa ser campo de reflexão,onde a cada dia busquemos analisar os fatos do cotidiano e suas conseqüências.Levar os alunos a desenvolver ao máximo seu senso crítico para que não sejam joguetes nas mãos de manipuladores que visam apenas seus objetivos individuais onde não interessa se o outro vai ou não estar bem.As crianças conseguem perceber as conseqüências de forma material ou subjetiva e às vezes nas duas formas,mas conseguem faze-lo.Não adianta querermos ficar impondo o que achamos certo,como se fosse uma máxima do universo o adulto dizer o que se deve fazer.Com a expressiva massificação dos meios de comunicação faz-se necessário cada vez mais ,comprovar o que alegamos,mostrar que realmente é o melhor.Isso só se consegue com debates,exemplos e construções coletivas.A educação que nos leva a essas atitudes,uma educação que busque formar pessoas conscientes de seus atos,de suas escolhas principalmente e não só subordinados que digam amém pra tudo e quem sabe mais adiante para algum tipo de violência que nem sequer sabem ao certo porque estão cometendo.É preciso criar regras de igualdade e de cooperação para o bem estar comum mas de modo conjunto,onde todos participem,pensando sobre o que estão elaborando e é esse o verdadeiro sentido da educação.
“A educação só teria pleno sentido como educação para a auto-reflexão crítica. Dado todavia que, como mostra a psicologia profunda,os caracteres em geral, mesmo os que no decorrer da existências chegam a perpetrar os crimes, já se formam na primeira infância, uma educação que queira evitar a reincidência haverá de concentrar-se na primeira infância.”Adorno
Kant diz ainda que o homem é naturalmente selvagem,que primordialmente valoriza sua liberdade e que por isso desde cedo deve freqüentar a escola, pois quanto mais tarde passar a conviver com regras,leis e normas de convivência que o tolhem de sua liberdade total muito mais difícil seria educa-lo,no sentido de viver em sociedade e submeter seus instintos agressivos.
“Entretanto não é suficiente treinar as crianças,urge que ensinemos as crianças a pensar.” Kant

Deficiência mental

Um elemento comum a todas as deficiências mentais é apresentar déficits irreversíveis na atividade mental superior.A pessoa com deficiência é mais lenta para adquirir conhecimentos e isso falando de “velocidades” muito variáveis.São menos eficientes em fazer processamentos,apresentam menores destrezas que se poderia considerar prévias a aprendizagem.A inteligência,como capacidade de aprender e associada a escolarização tem sua medição na psicometria.A idade mental é medida levando em conta o nível de capacidade geral e de aptidões concretas que o indivíduo atingiu em comparação com o nível médio para a sua idade cronológica em relação a maioria das pessoas.Aqui não pude deixar de relacionar com a descrição dos estádios de desenvolvimento estudados e estabelecidos por Piaget,como uma referência para se fazer essa comparação e assim detectar necessidades educativas especiais em nossos alunos.
Uma das características das pessoas com deficiência mental é a dificuldade de tomar decisões.A principio não conseguem elaborar planos,fazer ligação entre pensamentos e atitudes,planejar ações.Por isso a importância da escola como ambiente possibilitador da expressão de vontades e que eduque buscando desenvolver a tomada de decisões.Os deficientes mentais podem apresentar baixa auto estima e grande apego,que são fatores também a serem trabalhados e que podem ser oriundos da visão que as pessoas ao seu redor lhe transmitem,do que demonstram em relação as suas capacidades e habilidades.Assim é mais fácil trabalhar com os deficientes mentais na infância,pois nessa idade as crianças não fazem distinções entre si, e por experiência em minha escola reforço esse parecer.Tem-se que ter cuidado para não criar situações de rotulação,e não é difícil cair nessa armadilha.No ímpeto de proteger ou de ajudar podemos criar efeitos negativos,quando o propósito é justamente evitar a marginalização.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Desenvolvimento moral segundo Piaget

Atitudes violentas são parte do cotidiano de minha escola.Os alunos não as vêm sobre o mesmo prisma que nós professores.Algumas são mais leves outras bem graves.Não sei bem se as classifico assim por já estar me acostumando a elas,ou se por realmente podê-las chamar assim.
Na sala de aula não acontecem com freqüência,pois tento conversar sempre sobre isso e também a presença do professor,pelo menos nas séries iniciais coíbe essas atitudes.Mas não quer dizer que não ocorram.Por exemplo,semana passada,um aluno colocou apelido no outro na sala de aula,o que pra mim já é um tipo de violência,porque foi bem pejorativo.O outro revidou com palavrões e o resultado foi uma briga em sala de aula.Mas o mais comum mesmo é as brigas que ocorrem nas filas,onde um empurra o outro,que esbarra no da frente.Esse por sua vez não sabendo quem deu o empurrão agride o colega mais próximo,que esbarrou nele e foi tão vítima quanto.Daí para socos e pontapés é rápido.O pior mesmo é no recreio,onde acontece as “voadeiras” e as agressões em grupo.Mas segundo os alunos,é só “arreganho”.Percebo nas conversas que tenho com eles,que eles não enxergam a dimensão do que estão fazendo.è como se fosse algo normal,parte natural da sua convivência.Não percebem que podem machucar seriamente um colega e que atitudes assim impedem uma convivência harmoniosa .

Concordo com as duas teses que foram apresentadas como explicação dada por outros professores para esse tipo de comportamento.Realmente o meio violento pode sim afetar o modo de ver os outros.Num contexto em que vale o agora e o ter,em que se vive sobre a dominação de um poder paralelo que induz a conquistar as coisas pela força,cria-se uma cultura de não valorização a vida e aos sentimentos.Alguns alunos também refletem as famílias agressivas que tem,mas não por questões genéticas.Acredito que repitam aquilo que tem como normal,se os pais que dizem amá-los os agridem de forma que não gosto nem de lembrar,porque eles não tratariam assim os colegas que tem por amigos.Essa seria a forma de manifestar seus sentimentos e de reagir quando contrariados,que aprenderam por exemplo dos pais e que passam a reproduzir na escola.

“A escola deve ensinar, principalmente, um comportamento racional e autônomo, a discutir e a avaliar as diferentes soluções, contribuindo dessa forma para uma melhor socialização. Deve fugir principalmente da doutrinação.”

Claro que cabe a nós educadores tentar reverter essa situação,construindo junto aos alunos noções mais humanizadas de justiça e igualdade.É difícil no dia-a-dia manter a mesma palavra e cumprir com as combinações.Muitos desistem e acabam deixando as coisas acontecerem o que resulta na continuidade da violência escolar.

“Mesmo sabendo que a educação moral deve favorecer a colaboração, a argumentação, a reciprocidade e o respeito mútuo, torna-se difícil trabalhar com esses elementos dentro de uma relação quando se tem uma criança habituada à obediência heterônoma. Trata-se de um exercício duradouro e que não pode ser implantado de uma hora para outra."

Mas daí penso que a disciplina é um fator muito importante sem a qual não há ordem.Não quero dizer que seja preciso construir verdadeiros robôs como se os alunos fossem protótipos a serem trabalhados.Mas leva-los a refletir sobre suas atitudes,nas outras formas de resolver seus conflitos (internos e externos) e nas conseqüências que podem surgir positivas e negativas.

“Para Fávero (2005, p. 24-25) A criança precisa viver situações em que sua autonomia
seja fatalmente exigida. Um bom exercício é a organização de regras coletivas, que exigirão
entendimento, acordos e aprovação recíproca.A cooperação passa a ser um exercício de
autonomia e são elementos desse exercício o pensar, o expressar, o dialogar, o refletir, entre
outros que respeitem a participação ativa do sujeito ao ser integrado em um sistema de regras.”

Vejo a violência escolar tão exacerbada, como fruto de uma sociedade conturbada,materialista e onde as famílias estão desestruturadas e perdidas no que diz respeito aos valores que devem passar para seus filhos.Se os ensinam a ser “humanos”,solidários e fraternos correm o risco de desprepará-los para o mundo,que está extremamente competitivo e onde o egoísmo é a palavra chave para o sucesso.

“A heteronomia é a etapa do desenvolvimento moral em que são introduzidas normas
sociais à criança. Essas normas são apresentadas pelo adulto e atuam como parâmetros para a criança agir moralmente. Com o decorrer das relações, se incentivada a reflexão, a criança
passará a considerar as regras que conhece e revalidá-las. Entenderá que as regras são arbitrárias e passíveis de negociação.”

Em nossa escola estamos pensando em elaborar um projeto pedagógico para o próximo ano que tenha como objetivo principal justamente trabalhar a questão da violência.Ainda não começamos a faze-lo também por entendermos que despendi tempo,disposição,estudos e concentração para que tenha estratégias positivas e que proporcionem a sua realização.Há sim uma estigmatização,não só por parte dos professores mas dos próprios colegas em relação aos alunos que agem com violência.A maioria não gosta do que vê,passa ou sofre com esses comportamentos e reage com rejeição.Esse já é um grande ponto de partida para iniciar nosso projeto,pois possibilita conversações,debates e reflexões coletivas sobre o assunto e todas suas possibilidades a partir daí.
A família está cada vez mais distante dos filhos,deixando para a escola o papel também,de construir valores e trabalhar com ética e moral.

“Isso é “coisa que deve vir de casa”, da educação familiar? Sem dúvida. Mas também a escola assume esse compromisso. Um ambiente que reúne grupos, que possui relações de respeito e que tem como fundamento à educação tem a necessidade de saber o quanto contribui para o desenvolvimento moral dos seus alunos – pois esse desenvolvimento também é parte da aprendizagem.”

Não adianta reclamarmos,essa é a realidade.Temos que partir dessa e com essa realidade para melhorarmos nossa convivência e se não aceitarmos essa missão corremos o risco de envelhecer a mercê de adultos sem nenhum princípio, nem compaixão nem valores essenciais para uma sociedade justa,igualitária e fraterna.

“O respeito, diferente da obediência, é um sentimento construído nas relações interpessoais e vivenciado inter e intra pessoalmente. A harmonia nas relações favorece o respeito mútuo (ARAÚJO, 1999).”

Temos casos que ainda fogem a todas essas questões que são caracterizados como desvios de conduta ou de comportamento.crianças que sem causa aparente apresentam grande dificuldade em seguir regras,normas de convivência ou de conter seus ímpetos agressivos.Acho que esses sim,são casos preocupantes pois não é tomada nenhuma providência no auxílio desses alunos,não há atendimento especializado disponível ou acessível e os alunos crescem e fortalecem esse lado de suas personalidades,além de os outros colegas que não tem o entendimento de que se trata de algo que precisa de tratamento,acabem por ver suas atitudes como algo sem conseqüências,criando-se uma visão de impunidade e no processo de formação de conhecimentos em que se encontram,acabar sendo absorvido como natural ou normal.

Quando aprendo?

O texto de Serres vem bem de encontro ao meu modo de ver a aprendizagem.Algo que acontece o tempo todo e que é capaz de transformar nossos pensamentos,entendimentos e porque não,comportamentos.Desde que iniciei esse curso,por exemplo já saí da margem direita do rio e mesmo muitas vezes pensando que poderia me afogar ou que não teria força pra continuar nadando ou ainda que o rio é muito fundo,continuei a travessia,impulsionada pela vontade de melhorar e sempre,mas sempre mesmo,auxiliada pelos colegas e demais envolvidos nessa travessia.O texto usa bastante metáforas, e eu adoro escrever utilizando-as.
Hoje mesmo estava pensando sobre essa jornada que vivemos e que com certeza nos possibilitará atravessar outros rios e porque não,oceanos...Quando chamei a professora de senhora,ela disse-me “senhora não,senhora está no céu”.Mas é tão bom voltar a ser aluno,aprender,ampliar a vista do horizonte e ver além dele também.Saber que quanto mais sei,sei que nada sei hehehe quantos mais retalhos tirar mais encontrarei.E no simples ato de chamar uma pessoa de PROFESSOR encontram-se embutidos todos esses sentimentos.
Concordo com as colegas,é um texto bastante romântico.Mas o que é o romantismo se não a livre expressção do amor,e não aprendemos melhor quando gostamos do professor ou do assunto tratado.
E no sair da passividade,optar pelo esforço,encontramos uma educação que precisa ser repensada,revista no sentido do que queremos alcançar com ela.O que buscamos com as aprendizagens que propomos,estamos conseguindo fazer com que nossos alunos dêem o primeiro passo para atravessar o rio...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Autismo na sala regular

O autismo realmente é um assunto do qual não tinha nenhum conhecimento.O pouco que sabia era através do filme,em que o menino decifra códigos e mesmo tendo visto o assassinato dos pais,não consegue colaborar pois não se comunica com as outras pessoas.Uma característica marcante do menino do filme e que é citada nos textos lidos,assim como o hábito de girar objetos.Conforme o texto,vejo que são características de um pequeno número de autistas,essas capacidades especiais.
Para Kanner o autismo é uma síndrome que começa bem cedo no sujeito, com a interrupção das relações ,tornando-o por isso tão grave.
Não encontrou relação com o mental ,nem neurológico nem genético mas também não faz associação entre a qualidade do relacionamento familiar com o desenvolvimento do autismo.Estudos mais recentes apresentam o autismo também aparecendo após os três anos de idade.
As discussões em torno do termo,sua concepção,sua classificação dentro da medicina são grandes,mas suas características permeiam todas essas noções.Os autistas apresentam comprometimentos no desenvolvimento,e disso não se pode separar a questão afetiva.Ao estabelecer relações com o mundo e perceber-se nele,primeiro estádio de desenvolvimento cognitivo,acontece uma ruptura que ocasiona alterações nas suas relações interpessoais,dificuldades de comunicação e um comportamento típico com atitudes repetitivas e interesses muito particulares.
Tenho procurado conversar com as colegas sobre as leituras que fazemos nessa interdisciplina,porque acho que através do cotidiano posso compreender melhor o que estou absorvendo.Assim foi que uma colega de inglês relatou ter em aula um aluno autista.pelo relato dela pude constatar alguns sintomas da síndrome,por exemplo,o aluno tem dificuldades de comunicar-se,quando a professora faz a chamada e chama seu nome ele apenas levanta a mão mas nem sequer a cabeça.A professora sempre o procura com o olhar antes de chamar seu nome,porque já sabe que ele não vai responder.O normal numa turma de sétima série é que troquem de lugar a cada aula,porém esse aluno não o faz,sentando sempre no mesmo lugar.Surpreendeu-se muito a professora,agora após três meses de aula, quando ao fazer a chamada buscou com o olhar,não o viu no de sempre e ouviu o aluno repetir seu próprio nome porém sentado em outro lugar. Ela acredita que de tanto ver os colegas fazerem isso o aluno também se encorajou e fez.
Em outra ocasião,a professora chamou-o para ver seu exercício e lhe explicou que deveria colocar o verbo “to be” para completar uma frase e nas demais,colocar o equivalente em outras formas.O aluno colocou na primeira frase e a professora elogiou.Então ele ao sentar-se para continuar a tarefa escreveu em todas os outros exercícios “to be,to be,to be”,repetindo várias vezes uma resposta que acredito lhe pareça seguramente estar correta.
O autismo é muito individual e para cada criança pode apresentar variável no seu desencadeamento,não havendo uma causa específica para essa síndrome.Acho que na sala de aula o mais preocupante em relação ao autismo é a dificuldade de relacionar-se com as outras pessoas,que gera uma grande dificuldade de o aluno não ser excluído.Essa mesma colega me contou também que os colegas ficavam fazendo zombarias com o menino autista,dizendo que ele era assim porque estaria “doidão”, “fuma muita maconha sora!”.Então ela resolveu ter uma conversa com a turma pois já sabia do assunto e ficaram todos muito constrangidos com o comportamento que estavam tendo.Alguns até foram buscar na internet informações sobre
Autismo para compreender melhor.Realmente não basta a professora estar disposta a trabalhar com a inclusão,nem as leis garantirem acesso e permanência dos alunos ,mas escola,pais,enfim toda comunidade escolar precisa estar aberta,num pensamento solidário para com aqueles que tem necessidades especiais. Acredito que essas atitudes só se desenvolvam a partir de melhores informações.

O que é ser índio afinal??

A confusão na determinação do ser índio ao generalizar todos como povo indígena, começa na época dos grandes descobrimentos. Cristóvão Colombo em um desvio de navegação descobre a América pensando ter chegado às Índias.A partir daí chamou-se todos os nativos daqui de índios e/ou indígenas.essa terminologia passou a identificar todos os índios como um único povo,como se todos fossem idênticos em suas culturas,o que não é verdade.
“Na verdade, cada “índio” pertence a um povo, a uma etnia identificada por uma denominação própria”. Existem diversas línguas, costumes, organização social, que os diferenciam, mas que fazem parte da principal característica dos índios que é justamente a diversidade, o respeito às diferentes formas de relacionar-se com o mundo.
“A riqueza da diversidade sociocultural dos povos indígenas representa uma poderosa arma na defesa dos seus direitos e hoje alimenta o orgulho de pertencer a uma cultura própria e de ser brasileiro originário.”
Os índios já tinham sociedades organizadas e bem sucedidas,com sistemas econômicos e políticos funcionais antes da chegada dos colonizadores europeus e também como as sociedades européias,tem sua diversidade conforme o grupo a que pertencem.As características físicas contribuem para uma generalização etnológica,através dos traços as civilizações posteriores que aqui chegaram continuam identificando os índios como um povo único,com características sócio culturais também únicas.Na busca de uma dominação e de apossar-se do território,os colonizadores europeus depararam-se com nativos dispostos,por sua grande ligação com o território,a lutar por suas terras e então passam a buscar a dominação através de mudanças culturais,na tão famosa “catequização”,proíbem os índios de falarem suas línguas,obrigando-os a aprenderem o português.Por não conhecerem as armas de fogo,são expulsos de suas terras em verdadeiros massacres que atendiam a interesses econômicos.O que se aprendia na escola (ou se aprende?),eu pelo menos lembro,é a parte extraordinária da cultura indígena,no que diz respeito à pintura do corpo,rituais,danças,vestuário,principalmente às lendas e a ligação com a natureza,tudo isso como se os índios fossem todos idênticos e seguissem à risca os mesmos padrões sócio culturais.
Assim com o passar do tempo foi se reforçando a idéia de que ser índio é viver em berço esplêndido,aproveitando os deleites da natureza,como se tudo lhes fosse dado de “mão beijada”,tratando-os como preguiçosos e incapazes de trabalhar,de viver civilizadamente.Ou então são apresentados como seres quase míticos,que vivem a fazer feitiçarias e rituais nas florestas brasileiras.A organização tradicional dos índios onde existem os amigos e os inimigos,não existindo meio termo,que os levou a travarem batalhas entre suas tribos,ou grupos,está sendo trocada pela necessidade que perceberam de organizarem-se na busca pela sobrevivência de seus povos e de suas culturas,de suas identidades.É um processo longo e lento,mas já acontece.Os índios têm seus movimentos organizados,politicamente tem apoio (mesmo que sirvam a alguns interesses particulares) para apresentar seus representantes e falar de seus interesses comuns.Todos sofreram com a colonização européia e todos têm direito a preservar sua história,sua identidade e sua organização sócio cultural.
Acredito que a melhor forma para desfazer os pré-conceitos que ainda existem é o esclarecimento,a multiplicação desses saber,de que os índios não são um povo único que pode ser generalizado.Ao contrário é riquíssimo em sua diversidade,capaz de viver em sociedade organizada e produtivamente. A chamada sociedade civilizada é que tem que aprender a conviver e respeitar a diversidade sem a qual não existe identidade.É preciso tomar cuidado pois atendendo a interesses políticos,reforçados por uma propaganda massificadora,podemos nós também,estarmos sendo colonizados,ao pensarmos que só o padrão de referência estereotipado e apresentado como de excelência é que é bom.Assim quem sabe perdendo nossa capacidade de analisar, criticar,e de formar nossa própria identidade.Através da educação podemos contribuir para desmistificar esses estereótipos feitos aos índios,mostrando a diversidade cultural que existe,e trabalhando com a importância das diferenças numa sociedade e do respeito à diversidade.
“A interculturalidade é uma prática de vida que pressupõe a possibilidade de convivência e coexistência entre culturas e identidades.Sua base é o diálogo entre diferentes, que se faz presente por meio de diversas linguagens e expressões culturais, visando à superação da intolerância e da violência entre indivíduos e grupos sociais culturalmente distintos.”

Reflexões sobre a cultura indígena na prática pedagógica

Quando fui preparar a prática me dei conta que eu pouco sabia para falar da diversidade que existe na cultura indígena.Ano após ano,passamos estudando,enquanto educandos as mesmas teses sobre a vida dos índios,que são seres quase míticos,que vivem na floresta como selvagens,e que pelo que aprendemos todos os povos tem os mesmos costumes e vivem sobre a mesma organização sócio cultural.Quando comecei a ensinar para quarta série,passei a me preocupar com essa questão pois tinha que falar sobre os primeiros habitantes do RS e os alunos acima da idade;série já não se interessavam em pintar o rosto e sair imitando o velho modelo de índio que trazia.Foi a partir daí que percebi o quanto estava enganada em minhas conclusões sobre a vida indígena,e quantos e quantos anos ensinei da mesma forma que aprendi,além de tratar do assunto somente no “dia do índio”.Procurei fazer uma pesquisa e reuni todo material que tinha em mãos buscando formular uma aula que desse início a essa mudança de concepção.
Quando reuni o material referencial teórico para elaborar a aula,fui constatando a riqueza e a enorme diversidade que existe dentro do povo indígena.Começando pela questão da denominação de índios,que passei a explicar para meus alunos de onde havia surgido.Tentei mostrar a eles diversas tribos,com suas organizações,seus rituais e também chamar a atenção para os motivos pelos quais muitos índios vem para a cidade e tentam sobreviver aqui.Trabalhando no que sabem fazer,procuram honestamente manter suas famílias,como a família de Daniel Munduruku.E que em nossa cidade encontramos muitos índios vendendo artesanato,na maioria expulsa de suas terras por desapropriação e outros tantos obrigados a procurar sustento no trabalho urbano pois o desmatamento acabou com seus recursos naturais.Tentei leva-los a conclusão após debates e apresentação de materiais,de que não é porque os índios estão ali na rua vendendo artesanato ou moram em casebres muitas vezes na beira da estrada,que são vagabundos ou bandidos.Também coloquei a luta do Marechal Rondon em prol do respeito ao modo de vida dos índios,e as suas terras para mostrar que já há muito tempo há pessoas que se preocupam com o extermínio das diversas culturas indígenas e do povo indígena,porque são eles realmente os primeiros habitantes dessas terras em que hoje vivemos “por direito”.Além disso,acredito ser importante mostrar que existem verdadeiros heróis que lutam pela humanidade,e não só aquele que eles vem no dia-a-dia,os patrões do tráfico,que há outras pessoas para servirem de referencial e de exemplo,para admirarmos.
Tive muita vontade de conhecer e principalmente de levar os alunos para visitar uma aldeia aqui em Porto Alegre.Como só estou começando a tratar desse assunto,ainda buscarei alternativas para concretizar essa vontade.O resultado com os alunos foi muito gratificante.Pude perceber o quanto eles entenderam a mensagem que quis transmitir através das produções textuais livres.Pedi que escrevessem do que tinham aprendido aquilo que mais significou.E alguns expressaram vontade de conhecer as aldeias,de ver de perto como vivem os índios,aprender sobre sua cultura,e principalmente que ser índio não é só pintar a “cara” e dançar,mas que eles sabem “um monte” de coisas que nós não sabemos.Também fiquei satisfeita com a maioria escrevendo que não é porque eles vivem diferentemente de nós que não são pessoas boas,e que precisamos respeitar aqueles que são diferentes.