segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Capoeira lúdica sim!

Pude observar que a capoeira utilizada para a educação tem os elementos do jogo, quando busca trocar interações com os colegas.Capoeira se joga “com” o outro e não “contra” o outro. Lembrei dos estudos feitos com ludicidade e no aprender brincando, sentindo satisfação em descobrir o novo e sem a pressão de que está “estudando”.E se para jogar o aluno precisa do colega, começa a desenvolver-se uma estreita relação de cooperação, um dos fatores da construção da autonomia. As lições da capoeira mostraram-se plenamente extensíveis a vida cotidiana, porque precisamos dos outros para vivermos, não podemos viver sozinhos no mundo. Dentro do jogo da capoeira encontramos muitos aprendizados morais utilizados de forma simbólica, demonstrando sua ambigüidade com o jogo: é preciso estar sempre atento, o cuidado com nossa interferência em relação ao outro, o respeito que queremos e que precisamos ter, saber porque e como estou fazendo algo. Pude empregar todoas essas reflexões quando relacionei a capoeira com a ludicidade tão importante na construção dos novos aprendizados.

O professor e a autonomia

O professor que educa para a autonomia é a própria realização do que pretende, ele sustenta sua argumentação na prática exemplar, ou seja, age de acordo com aquilo que fala, demonstra sua própria autonomia em seu dia-a-dia e busca cumprir o que fala. Numa educação para autonomia não há espaço para preconceitos ou discriminações, e a capoeira atende fielmente esse princípio pois na roda de capoeira são todos iguais , tem os mesmos direitos, e qualquer indivíduo pode jogar capoeira, sem nenhum tipo de restrição .
A autonomia presume que se respeite a todos em sua dignidade, como ser humanos que somos, em busca de uma melhor qualidade de vida. Mas acima de tudo, é importante que todos sejam tratados de forma igualitária, porém com compreensão de que temos, cada um, especificidades, histórias, saberes próprios e únicos e que, portanto necessitamos estar atentos para não retornarmos aos tempos da ditadura doutrinadora de indivíduos sem pensamento próprio.

Pôr em prática um tipo de educação que provoca criticamente a consciência do estudante necessariamente trabalha contra alguns mitos, que nos deformam. Esses mitos deformadores vêm da ideologia dominante na sociedade. Ao contestarmos esses mitos também contestamos o poder dominante.(FREIRE,1987,p.67)

Marx e a educação

Quando estudei Marx, tocou-me profundamente as suas idéias e críticas a respeito da sociedade capitalista e como nós enquanto educadores temos responsabilidade na constituição dos cidadãos e na elaboração de seus objetivos de vida.Na sociedade analisada por Marx, a perspectiva era de mulheres e crianças levadas a trabalhar, onde a condição humana foi suplantada e a miséria não só material, mas ética e moral, estabelecida. A escola reprodutora desse sistema conduziu os alunos como um produto a ser elaborado pelo empregado-professor, sem levar em consideração o universo sócio cultural desses alunos, cabendo aqui apenas uma educação que os estagnasse em sua fase de heteronomia, sem procurar desenvolver sua autonomia, provando-os assim de perceber mais tarde, quando adultos os interesses de sua classe. Marx através dessa sua reflexão teórico prática me levou a pensar na necessidade de uma educação com responsabilidade social, humanizadora, respeitadora dos diferentes modos de pensar e de se expressar, ou seja, uma educação para a autonomia.
A doutrina materialista relativa à mudança de circunstâncias e à educação esquece que elas são alteradas pelo homem e que o educador deve ser ele próprio educado. Portanto, esta doutrina deve dividir a sociedade em duas partes, uma das quais (os educadores) é superior à sociedade. A coincidência da mudança de circunstâncias e da atividade humana ou da auto-mudança pode ser concebida e racionalmente entendida apenas como prática revolucionária. (MEZSAROS, 2005) 
Fiz para meu trabalho uma pesquisa profunda sobre os propósitos da educação no passar dos tempos e para quem estão voltados , a que interesses estaria atendendo.A partir daí fiz um questionamento interno e um paralelo das transformações evolutivas que a capoeira também passou para resistir e não ser “dominada”.Há o questionamento de que a capoeira foi “embranquecida” para atender interesses da época, mas na verdade ela mantendo sua autonomia, preservou sua essência e transpôs obstáculos mantendo seus princípios , fundamentos e tradições , ou seja manteve os saberes populares que a originaram.

Freire e o meu TCC

Através das leituras sobre as idéias de Paulo Freire, pude me interessar pelas questões relacionadas ao desenvolvimento da autonomia como princípio básico para a liberdade. E no estágio observei que a capoeira pode ser um importante fator na constituição da autonomia, exatamente por sua ligação essencial com a educação afetiva na qual acredito fielmente, já que a capoeira é trabalhada numa permanente relação de respeito do professor por seus educandos e seus saberes. Essa a idéia principal de Freire, o respeito ao que o indivíduo traz como bagagem cultural adquirida no seu cotidiano, anterior a sua entrada na escola.Entendo que havendo a possibilidade de utilizarmos atividades, técnicas, metodologias que sejam propulsoras dessa autonomia, não podemos deixar de fazê-lo porque se trata realmente de comprometimento com nossa tarefa, nossa proposta de vida que é a docência como agente de transformação, capaz de desenvolver a cooperação e a solidariedade. E assim determinei como objetivo do meu tcc investigar as possíveis contribuições que a capoeira poderia oferecer para a construção dessa autonomia.