sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A quem serve a escola popular brasileira??

A escola pública em geral, no Brasil, atende a parte da sociedade mais carente, a que tem menos condição material e uma qualidade de vida injusta. Por isso,é vista como de ensino sem qualidade,e por muitos apenas uma obrigatoriedade.Prova disso é quando ouvimos as pessoas dizerem “tirei daqui e dali,mas coloquei numa escola particular,para garantir um estudo melhor”.
A escola pública não atende os interesses da população que a freqüenta, e isso é parte de um sistema muito grande que é a sociedade na qual ela está inserida. Vivemos numa sociedade consumista,egoísta e individualista.O tempo todo somos forçados a uma competição acirrada,na busca por empregos,salários,e até relacionamentos.Tal sociedade não poderia gerar sistema educacional diferente do que vivenciamos,onde é cada um por si,reproduzindo a desigualdade social e as discriminações existentes.A escola então tem durante anos seguido o mesmo projeto:formar um grupo considerado capacitado,para que tenha sucesso e mais tarde faça uso desse sucesso e do conceito de bem sucedido que trazem consigo para comandar e sendo superior aquela maioria que não alcançou esse “patamar”,tornar-se chefe,dirigente.
Acontece que se a escola atende os interesses da sociedade, essa sociedade é formada por nós mesmos, que vivemos tão presos ao sistema que não nos damos conta disso. mas do que vive o homem na sociedade,é de seu trabalho e esse é “concedido” por aqueles que tem mais poder.Então numa grande roda viva,os poderosos ditam os interesses financeiros que originam o trabalho para o qual a sociedade é preparada a servir.Nesse contexto,com o avanço da tecnologia ficou cada vez mais desnecessário que se tenha algum conhecimento técnico para trabalhar nas fábricas e indústrias,nos empregos de massa como se diz,que é onde a maioria da população mais carente consegue seus empregos,pois que não avança muito na escolaridade.Então a escola reforçou essa roda viva,valorizando a obediência,o permitido e o não permitido,ordem,disciplina e segmentação dos conteúdos.Cada disciplina tem o seu propósito e portanto os seus conteúdos e uma não toma ciência da outra.Cada professor trabalha em sua linha de ensino,seguindo uma teoria epistemológica e que talvez nem saiba que está seguindo.A questão salarial e o desinteresse dos alunos vem a justificar muitas vezes a acomodação e a falta de vontade de investir em novidades ou mudanças.A nota,o ser aprovado,passa a ser um prêmio para aqueles que apresentam-se capacitados à isso,assim como nos trabalhos os “melhores” tem melhores salários e cargos superiores onde lideram os demais.A escola que valoriza os mais capacitados em detrimento daqueles considerados com menos condições de aprender em relação à esses,está automaticamente validando um sistema onde os alunos vão cada vez menos acreditando em seu potencial,na força de suas idéias e de sua criatividade.dessa forma sentindo-se cada vez mais inferiores e na condição de submissos,cabendo-lhes o mero papel de comandados já que para “ser alguém” na vida é preciso ter estudo e nisso,eles não conseguem ir muito além.
A escola continua servindo aos interesses da sociedade, dentre eles os interesses do mercado trabalhista que agora precisa de trabalhadores flexíveis, disponíveis e interessados pelas questões de sua empresa. Por uma exigência do próprio mercado consumidor,as empresas precisaram adaptar-se a nova realidade,buscando vencer a concorrência e superar a crise econômica e para isso diminuindo custos e aumentando qualidade ,aliando-se com novos recursos tecnológicos.O trabalhador desse sistema precisa saber buscar alternativas,soluções,conhecer outras funções além da sua e também saber utilizar-se dessa nova tecnologia ou pelo menos estar aberto a aprender como utiliza-las.Percebo que existe um discurso por parte do Governo,de liberdade de escolha,autonomia,educação para democracia.Mas estamos agora vinculados à índices de qualidade de ensino e para isso realizamos Prova Brasil e respondemos ao IDEB,para o qual se a escola está “abaixo da média” ganha propostas para melhorar esse índice,do tipo PDE,projeto Mais Educação entre outros.Ou seja,precisa a escola atender as necessidades do mercado,que agora precisa de pessoas articuladas,capacitadas em diferentes habilidades e flexíveis.mas não se considera o meio onde vive nossa população,nem seus reais interesses,muito menos que se aplique uma educação para o crescimento pessoal,a não ser na teoria.Precisamos continuar atentos para que não sejamos instrumentos desse apoderamento que vai, tempos em tempos, dirigindo camufladamente os objetivos da educação e persistir em nossos objetivos enquanto educadores,de formar cidadãos críticos,capazes de refletir e discernir o que é melhor para si e para o grupo em que vivem.

Alfabetização como política cultural

Quem vive a realidade cotidiana da escola pública sabe como bem se aplica esse “capítulo” do texto. Todos os dias são reclamações de colegas e de alunos, que uns não atendem aos anseios dos outros.Continuamos insistindo num currículo inflexível e dissociado entre as disciplinas, com conteúdos para os alunos na maioria sem a menos relevância e utilidade.Impomos a forma correta de falar e de escrever e continuamos ainda repetindo a forma como estudávamos como se a sociedade não tivesse se transformado e como se os alunos estejam sendo criados pelo mesmo tipo de família e no mesmo contexto histórico que nós.
A escola realmente tem sido um grande campo de batalha, os professores cada vez mais desgastados e cansados, os alunos mais e mais descomprometidos. Eles não tem voz nem vez, aquilo que são e representam em sua comunidade, o que sua família é ou faz, para a escola e seus “mestres” não é suficiente, não é digno e não tem valor.Precisam “estudar para ser alguém na vida”,então são ninguém?
Nós professores não vamos ao desespero, pois que conhecemos muitos que já estão quando dizem que desistem, não vão mais insistir, não tem jeito mesmo.E mesmo percebendo que não está funcionando dessa forma, continuam repetindo monotonamente as mesmas estratégias repressivas e inferiorizastes em relação a cultura dos alunos.Preparando os alunos para o mercado de trabalho, para a vida “lá fora”, num doutrinamento considerado ideal e garantia de sucesso, assim vamos repetindo aos resmungos os mesmos currículos, ideologias e práticas que não queremos para nós mesmos, pois são consideradas opressoras.
Me vem uma frase muito adequada a essa reflexão: “Penso,logo existo”.Pois é preciso orientar nossos alunos a pensar, refletir, saber analisar criticamente o que é possível realizar em termos de melhorias , tanto na vida própria quanto como participante de uma comunidade que pode e sabe dizer o que pensa, por isso existe,deve ser ouvida e respeitada.

Educação emancipadora,o poder de ler o mundo

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Para Paulo Freire a ação deve estar sempre comprometida com a transformação, senão não tem sentido. Acreditava que através da educação é que se pode melhorar a condição humana, pois a educação sempre parte de um propósito e se serve a objetivos parte em busca de alguma realização.
Partindo do princípio que a alfabetização deve ser emancipadora, Freire dizia que é um meio para que as pessoas se tornem mais conscientes de suas histórias, de suas experiências e das possíveis transformações que podem realizar enquanto indivíduos e grupo.
Uma alfabetização emancipadora vai além do mecanismo de ler e escrever pressupõe habilidades como refletir, pensar criticamente, tomar consciência. Deve ser ponto de partida para a liberdade de escolha, tomada de decisões, responsabilidade política e social e através dessa conscientização que se espera alcançar uma democracia real e igualitária. Nesse modelo de alfabetização aprendemos todos, alunos e professores se estivermos preparados para aceitar as diferenças como um valor de ser humano, acrescentando cada vez mais conhecimentos que essas diferenças proporcionam

Do momento em que o aluno compreende a necessidade de alfabetizar-se para interagir no mundo a seu redor, cria uma expectativa de participação, de igualdade de direitos e de inclusão social.
A alfabetização então não é só a capacidade de ler e escrever, mas de entender o mundo e poder intervir de forma consciente. Amplia o horizonte do cidadão, abre alternativas de interação, levando-o a perceber-se no contexto, pesquisar sua história de vida, valorizar suas experiências, seu saber e suas competências. Cada vez mais eleva-se sua estima, sua dignidade pois através da comunicação pode manifestar suas idéias e propósitos e contribuir para o crescimento da sociedade.
questão da alfabetização crítica em se relacionando com poder, ultrapassa 0os limites dos códigos e convenções da leitura e da escrita. vai além de saber ler o nome do ônibus,mas num sentido bem mais amplo, saber para onde ele vai,por onde passa , quanto custa a passagem, se eu pega-lo por engano como faço para voltar.Engloba interpretação, entender o que lê, participar da construção das decisões, saber defender suas idéias e sua cultura como algo de valor, como um pertencimento que ninguém pode tirar nem menosprezar.
O “continuar analfabeto” traz grandes significações incutidas, podendo ser prova de resistência ao domínio de outra classe, não aceitação de deixar o seu modo de vida para submeter-se ao que outros acham certo ou importante, pois a bagagem que trazem não é inferior nem errada, é simplesmente própria.
A escola pode estar reforçando essa resistência quando submete todos a uma mesma linguagem, considerada a correta e inferioriza outras formas de expressão, de manifestação. Nós professores precisamos estar atentos a esse jogo de interesses, buscando cada vez mais uma educação para a crítica que nos possibilite junto aos alunos nosso crescimento pessoal, o desenvolvimento de uma consciência coletiva humanitária e igualitária, mas que sempre respeite , valorize e aprenda com as diferenças individuais.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Comenius e o hoje

Encontro tantas identificações com o pai da didática,Comenius e é incrível, afinal após tantos anos. A primeira identificação é com a educação para todos,no que acredito que não exista criança “perdida”,que não possa ou não mereça aprender. Depois a forma, a de considerar o aluno como um ser pensante e com suas emoções próprias. À partir daí elaborar estratégias de ensino de forma gradativa e não avançar etapas sem a certeza de que a etapa trabalhada atingiu seus objetivos.Me preocupo também com a questão dos conteúdos pré-determinados e que não signifiquem para os alunos.Acredito que é importante os alunos estarem motivados e oferecer-lhes projetos em que os temas geradores partam de suas curiosidades.Procuro utilizar muito nas minhas aulas as artes em geral,brincadeiras,música,teatro.outro elemento comum, é que uso experiências sempre que possível e daí tirem suas conclusões.Acredito que o aprendizado verdadeiro e duradouro,acontece num ambiente amistoso,de diálogo,de confiança e onde o professor é ético e faz o que diz,servindo de exemplo vivo aos alunos.Tenho a mesma preocupação que Comenius,na formação do caráter dos alunos,,em proporcionar-lhes a análise crítica,a formação de suas próprias convicções embasadas no bem comum.
“E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes, para a piedade sincera.”¹

1. Fonte:
COMÉNIO, João Amós. Didácta Magna: tratado da arte de ensinar tudo a todos. 4. ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1996. 525 p.

Falar e escrever:o que é certo e o que é errado???

Lendo o texto lembrei-me de uma saída que fiz com os alunos de quarta série ao Planetário. Na avenida Ipiranga,comentei com os alunos a questão da pichação,num prédio colocado em estado lastimável,porque faziam isso,se não tinha mensagem nenhuma,afinal não dava para entender o que queria dizer.os alunos me revelaram significado,que havia sido feito naquele lugar para chamar a atenção e que essa era a mensagem.Então tornei a questionar mensagem pra quem se a maioria das pessoas não entendia,como eu e de forma tão feia.A resposta foi convicta:”feia para quem não entende,para os pichadores quanto mais difícil o lugar mais moral entre eles,essa é a mensagem principal,a gente existe e vence os obstáculos para dizer isso”.Não preciso dizer que fiquei surpresa e mais uma vez aprendi com meus alunos.
“Texto e discurso (e in¬cluiríamos também oralidade) passam a ser vistos como artefatos produtivos, construtivos de formações sociais, comunidades e identidades sociais dos sujeitos. Nesse sentido, a própria construção do conceito de sujeito é cultural e toda prática social tem seu caráter discursivo”. (Luke, 1996).
A questão de linguagem ou da forma de comunicar-se está sim ligada ao contexto sócio cultural que a pessoas se encontra.Se é certo ou errado,depende de quem avalia.Encontro sempre dificuldades em construir combinações entre verbos,pessoas e mais ainda quando envolvem os tempos verbais.Conversando com as famílias dos alunos pude perceber o quê.Eles falam “errado”,consequentemente os filhos aprendem e falam também.E prá que falar certo?Suas vidas começam e terminam dentro da Vila,e lá todos se entendem falando daquele jeito.Nós mesmos,gaúchos,na grande maioria ao conversarmos omitimos o plural de várias palavras “que frio no meus pé”.Enquanto no Rio de Janeiro por exemplo,usa-se o plural corretamente mas muitas pessoas trocam o l pelo r,”pranta,Framengo” e por aí vai.A diversidade linguística de nosso país é tão grande que é preciso aprender novas palavras e/ou expressões ao sairmos de noso estado.
“Sob o nosso ponto de vista, a escola enfrenta o desafio de incorporar ao currículo essas demandas sociais e culturais e de articular mei¬os para responder a elas. É a era das interlocuções mais amplas.”
E além disso vivemos à época do “internetês” onde troca-se qu por k,x por ch,tudo prá acompanhar a velocidade da vida moderna,pois agora além do tempo não parar,ele também voa.Todos tem muita urg~enia em tudo,até para se comunicar.
Assim vejo que existem muitas diferenças entre o que os alunos falam e aquilo que escrevem,mais ainda com aquilo que leem.E talvez essa diferença é que ause a distância tão grande entre os alunos e as disciplinas,resulktando em desinteresse e cada vez menos produções construtivas.
“A ideia do significado e da provisoriedade dos conhecimentos selecionados e de projetos didáticos diferenciados/articulados/contextualizados para cada aluno e para o coletivo da sala de aula, entre outros aspectos evidentemente, parece uma estratégia pedagógica adequada para fomentar políticas educacionais de inclusão.”

Fonte: A leitura, a escrita e a oralidade como artefatos culturais (DALLA ZEN; TRINDADE, 2002).